O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença autoimune crônica que pode afetar diversas partes do corpo, incluindo pele, articulações, rins, coração e pulmões.
Ele ocorre quando o sistema imunológico (de defesa) ataca tecidos saudáveis do próprio corpo, causando inflamação e danos aos órgãos.
A pele e as juntas são os órgãos mais afetados pela doença.
O lúpus pode afetar somente a pele, levando o nome de Lúpus Cutâneo e geralmente é tratado por dermatologistas. Já o lúpus que acomete vários órgãos do corpo é chamado de Lúpus Eritematoso Sistêmico, pois afeta vários “sistemas” do corpo.

Por que a borboleta é o símbolo do Lúpus?
Pois o formato da borboleta lembra muito a lesão de pele do lúpus, especialmente a do rosto, que historicamente é descrita como eritema em “asa de borboleta’’. Desta forma, é usada pelas sociedades de reumatologia pelo mundo como símbolo da doença.

Quem é o médico do Lúpus?
O médico reumatologista é o profissional mais apropriado para diagnosticar, tratar e acompanhar o LES, pois é especializado em identificar todas as manifestações e possui um olhar amplo sobre a doença e sobre o paciente. Em alguns casos, precisamos de auxílio de dermatologista, nefrologista, cardiologista, pneumologistas, dependendo da gravidade dos sintomas.
Dra Laura G. Sari é reumatologista formada pelo Complexo de Hospital de Clínicas da UFPR (PR), possui mais de 6 anos de experiência, e atua no cuidado dos pacientes com Lúpus Eritematoso Sistêmico e outras doenças reumatológicas.

O que pode causar o Lúpus?
A causa exata do LES ainda não é totalmente compreendida, mas sabe-se que é resultado de uma combinação de fatores genéticos, hormonais e ambientais. Algumas condições que podem desencadear ou agravar o LES incluem:
- Predisposição genética: Pessoas que nascem com genes suscetíveis podem desenvolver a doença em algum momento após interação com algum fator ambiental como os listados abaixo.
- Exposição ao sol: a radiação solar pode ativar o sistema imune contra o próprio corpo
- Infecções virais: a ativação da imunidade contra um agente infeccioso pode levar a formação de anticorpos contra o próprio corpo, os chamados autoanticorpos.
- Estresse emocional: pelo desequilíbrio da homeostase do corpo e do sistema imune.
- Uso de certos medicamentos
Quem pode ter Lúpus?
O LES afeta principalmente mulheres, especialmente entre 15 e 45 anos, mas pode ocorrer em qualquer idade e também em homens.
O que posso sentir se eu tiver Lúpus?
Os sintomas do lúpus variam de pessoa para pessoa.
Os mais comuns incluem:
- Lesões de pele: ocorrem em mais de 80% dos casos.
- As lesões mais características são manchas avermelhadas nas maçãs do rosto e dorso do nariz em forma de “asa de borboleta” e não deixam cicatriz.As lesões discóides ocorrem em áreas expostas à luz solar, podem ocorrer no rosto, couro cabeludo, são delimitadas e deixam cicatrizes.
- Outra lesão muito frequente é a “fotossensibilidade” que é um vermelhidão da pele em áreas expostas a radiação solar.
- Dores articulares: ocorrem em quase 90% casos. São dores associadas ou não a inchaço principalmente em mãos, punhos, joelhos e pés. No lúpus, as juntas doem mais do que incham. Uma alteração pode ocorrer é a artropatia de Jaccoud, em 8-10% dos casos, que são desvios nas articulações devido a inflamação de ligamentos e tendões dos dedos.
- Fadiga intensa: a inflamação gasta muita energia do corpo e com isso surge um cansaço desproporcional às atividades realizadas, muitas vezes descrito como um sintoma de “fraqueza/cansaço generalizado”.
- Febre sem causa aparente: pode ocorrer por ativação do sistema imune e isso gera febre. Nem sempre é sinal de infecção, porém é necessário investigar causas infecciosas.
- Queda de cabelo: pode ocorrer em fases de atividade de doença e na maioria das pessoas o cabelo volta a crescer normalmente com o tratamento.
- Problemas nos rins: ocorrem em cerca de 50% dos casos. É a famosa nefrite lúpica – ela pode ser leve ou grave. Pode não gerar sintomas, mas em alguns casos pode ocorrer pressão alta, inchaço as pernas e espuma na urina. A nefrite lúpica é identificada em exames de sangue e urina. Quando não tratada adequadamente pode evoluir com insuficiência renal com necessidade de diálise ou transplante renal.
- Inflamação no coração ou pulmões: pode ser leve e não causar sintomas ou se manifestar por dor no peito, dor para respirar, falta de ar ou palpitações.
- Problemas neurológicos: podem incluir dor de cabeça, convulsões e problemas de memória.
- Alterações no exame de sangue: ocorre por ataque dos anticorpos contra as células do sangue e causar destruição delas. Pode ocorrer:
- anemia (redução dos glóbulos vermelhos), podendo levar a fadiga, palidez de pele, lábios e das mucosas.
- plaquetopenia (redução das plaquetas), podendo levar a manchas e hematomas pelo corpo ou sangramentos.
- leucopenia (redução dos glóbulos brancos), geralmente não causa sintomas.
COMO SABER SE EU TENHO LÚPUS?
O diagnóstico do LES nem sempre é fácil, pois os sintomas podem se confundir com os de outras doenças.
O diagnóstico é feito pelo reconhecimento de sinais e sintomas, avaliação de exames de sangue e urina e alguns exames específicos, como o FAN e anticorpos como anti SM e anti DNA, por exemplo. Em alguns casos, é necessário realizar biópsia de pele ou de rim.
Tenho um FAN positivo, tenho Lúpus?
Este exame assusta muito paciente que vem em consultas trazendo um FAN solicitado por um médico, porém é um exame que quase nunca é explicado ao paciente o motivo de ter sido solicitado e o que significa. Então vamos lá que eu vou explicar.
O FAN é um exame de “triagem” para detecta alguns tipos de anticorpos. Dependendo do tipo de FAN e o seu título (a quantidade de anticorpos a ele associado), este FAN está associado a um anticorpo específico. E esse anticorpo específico precisa causar sinais e sintomas sugestivas de alguma doença a ele relacionado.
Porém, o que quase ninguém explica é que o FAN pode ser positivo em pessoas sadias! Isso porque existem anticorpos que não geram sintomas e não causam doença e está tudo bem. Então nem sempre você terá Lúpus se tiver um FAN positivo.
Para isso, é necessário uma avaliação clínica criteriosa como uma boa conversa e exame físico pelo reumatologista para avaliar se aquele FAN faz sentido ou não.
Se o paciente possui um FAN positivo e ele não possui queixas sugestivas de doenças, aquele FAN no momento não faz sentido, e o paciente deve ser acalmado.
Por outro lado, se aquele FAN positivo está “causando” alterações relacionada ao Lúpus, outros exames serão necessários para esclarecer os fatos.
Portanto, primeiro se acalme, marque uma consulta com o reumatologista e logo tudo será explicado.
COMO TRATAR O LÚPUS?
O LES não tem cura mas possui tratamento.
O objetivo do tratamento é controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida. O tratamento depende muito da manifestação apresentada no momento, portanto é individualizado.
Desta forma, a pessoa com LES pode necessitar de um ou mais medicamentos dependendo da sua condição. Os principais medicamentos utilizados são:
- Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs): Para aliviar dor e inflamação, em sintomas mais leves.
- Corticosteroides: Para reduzir inflamações mais graves
- Imunossupressores: Para controlar a atividade do sistema imunológico.
- Antimaláricos (como a hidroxicloroquina): é o principal medicamento. Além de “estabilizar” o sistema imune, auxilia no controle dos sintomas de pele e articulações.
Só medicações tratam o Lúpus?
Não, além do uso de medicamentos, é fundamental adotar hábitos saudáveis, como:
- Evitar exposição excessiva ao sol, usar protetor solar diariamente em locais do corpo que mais se expõem ao sol. É importante também reaplicar o protetor solar durante o dia. É importante salientar que o protetor solar também deve ser usado em dias nublados e dentro de casa, pois o radiação solar está presente mesmo na ausência do sol visível e também nas lâmpadas dentro da casa, especialmente as brancas e amarelas. Não esqueça de usar chapéu ou boné, roupas de proteção UV e guarda-sol ou sombrinha quando for se expor ao sol.
- Manter uma alimentação equilibrada e rica em nutrientes.
- Evitar alimentos ricos em gorduras e álcool em excesso.
- Praticar atividade física
- Ingesta de alimentos ricos em cálcio, como leite, iogurte e queijo, como uma forma de prevenção de osteoporose.
- Controlar o estresse e manter um bom equilíbrio emocional.
- Uso de anticoncepção adequada, conforme orientação do médico, pois muitos medicamentos usados podem interferir na gravidez.
- Realização de vacinas indicadas pelo médico, como a vacina da gripe, COVID-19, hepatite B e da pneumonia.
Lembre-se que estas medidas são tão importantes quanto os medicamentos!!!


Quanto tempo dura o tratamento?
LES é uma doença crônica e não tem cura. Portanto o tratamento é realizado pelo resto da vida e o acompanhamento é necessário por longos períodos. Por isso, tenha um reumatologista para chamar de seu!
Como conviver com o Lúpus?
O LES pode impactar a vida cotidiana, mas com um tratamento adequado e acompanhamento médico regular, muitas pessoas conseguem levar uma vida normal. O apoio de familiares, amigos e grupos de apoio é essencial para lidar com os desafios emocionais e físicos da doença.
Se você suspeita que pode ter lúpus ou já recebeu o diagnóstico, marque uma consulta para um acompanhamento personalizado. Quanto antes for iniciado o tratamento, melhor será o controle da doença e a preservação da qualidade de vida.
Posso realizar procedimentos estéticos e tatuagem tendo Lúpus?
Está é uma dúvida muito comum e cada caso é um caso, portanto deve ser discutido com o reumatologista.
A doença deve estar controlada por pelo menos 6-12 meses antes de realizar qualquer procedimento, e em alguns casos estes procedimentos podem estar contraindicados. Portanto, converse com o reumatologista antes de tomar qualquer decisão.
Posso engravidar tendo lúpus?
O LES está associado a complicações da gestação, dependendo do quanto ele está ativo no momento. Assim, é necessário que a doença esteja controlada (sem sintomas e sem alterações importantes nos exames de sangue) por pelo menos 6-12 meses.
Além disso, muitas medicações usadas no LES interferem na gestação. Desta forma, é fundamental conversar com o reumatologista antes de planejar a gravidez, e caso ela ocorra sem esperar, comunique o quanto antes o reumatologista, pois muitas vezes será necessário suspender algumas medicações e iniciar outras, de acordo com sua indicação.
Além disso é fundamental manter as consultas de pré-natal sempre em dia com o ginecologista/obstetra.
Leia mais:
Cartilha de vacinação Sociedade brasileira de Reumatologia (SBR)
Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR)
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